Há apertos de mão firmes, tão firmes que chegam a ser violentos e assustadores. Há apertos de mão seguros e verdadeiros, genuínos, mão na mão; verdadeiros apertos de mão. Há apertos de mão simples, nem muito curtos nem muito longos, apertos de mão que dispensam maiores cortesias, cordiais, diários. E há apertos de mão tristes, tristíssimos, desolados, desconsolados, indiferentes, que não são um aperto de mão, mas um levíssimo fugidio encosto de mão, quase infeccioso, um condenado esforço para conter a sensação de nojo, uma mão fria, sempre morta que estende e se encosta à nossa. Na verdade, um nojo de aperto de mão. Há ainda os apertos de mão para evitar os beijos. A mão meticulosa, estudada, antecipadamente estendida, distante; uma mão rápida e decidida.
E há os beijos. Há os beijos sem grande personalidade. São os primeiros beijos, indecisos, rápidos, tímidos, inseguros, quase arrependidos; uns lábios que se confundem com a mão. Há os beijos domésticos, rotineiros mas ternurentos das tias, de algumas amigas, de algumas mães, de alguma pessoas. Há os beijos carinhosos às grandes amigas, quase íntimos, confidentes, infantis e desavergonhados. Há os beijos aos restantes amigos. Estes beijos são muito variáveis naturalmente. Podem ir de um simples e honesto beijo, passando pelos beijos mais rápidos ou mais longos, mais sonoros ou não, mais carinhosos, menos carinhosos, obrigatórios mas indesejáveis, beijos com abraços, um beijo, dois beijos, três beijos, ou simplesmente um beijo que perigosa e disfarçadamente desejamos e tentamos mais perto dos lábios. Lembro-me de ter lido algures um texto que dizia qualquer coisa parecida com o seguinte: Não tente primeiro conhecer uma pessoa para depois a beijar, beije-a primeiro para decidir se a quer conhecer. Pode ser um belo argumento, não é? Já agora, beijo é substantivo abstracto ou concreto?