Thursday, November 30, 2006

Pensar por escrito porque não me ocorre nada melhor...

Ando à procura de uma obsessão para vos mostrar há algum tempo. Sei qual é. É uma pintura do sec. XVII e na temática que a originou, a minha predilecta. É a melhor que já vi. Procurei-a na net há algum tempo atrás e não encontrei uma boa imagem. Não a publiquei. Não me arrependi. Não me importei. Abandonei a ideia porque tenho alguma dificuldade em abraçar a extrema beleza e perfeição da obra e o terror que ela representa. Sim, a temática é terrível, talvez mesmo horrível, embora banal ou se quiserem, pouco original. São inúmeras as obras que a trabalharam. É um clássico. O horror é também um clássico nas suas variadas formas. Contudo esta obra que porcuro é inigualável. Atinge-nos a todos. Atinge-me a mim. Sempre. É fatal, é letal. Há várias fotografias que me atingem assim. Por isso é que esta obra é inigualável, porque não me lembro de pinturas que me atinjam assim. Esta é a excepção. Aliás, do mesmo autor, Nicolas Possin há muitas obras muito interessantes, mas nenhuma como esta. Tecnicamente perfeita. Clássica. Na sua temática, banal. O banal das suas obras e das obras do seu tempo. Na sua representação de conjunto e naquilo que dela entra por nós dentro, absolutamente devastadora! A pintura geralmente estabelece sempre uma distância apaziguadora entre a realidade do que representa e o desconforto que possa causar. Não que não o cause, mas nunca é um desconforto comparável àquele que uma fotografia na sua aproximação à realidade e na sua profundidade pode proporcionar ou me proporciona a mim. Ontem havia uma notícia de uma criança recém-nascida encontrada num saco térmico no lixo. Não é absolutamente horrível? É precisamente esta intensidade que encontro nesta obra da qual procurarei uma boa imagem e se conseguir, mostrá-la-ei aqui. Podem sempre dar uma ajuda.

Wednesday, November 29, 2006

Anfitriões

Guerras sem sentido, muros inaceitáveis, envenenamentos inacreditáveis e continuamos a reunirmo-nos uns com os outros, a apertar as mãos, a tirar fotografias sorridentes, como se nada disto existisse. Ou é porque não temos força militar; ou é porque os direitos humanos são para todos, mas não são iguais para todos; ou é porque não temos energia e se nos cortam a luz cegamos.... Lá vamos todos penteadinhos com ar digníssimo, mas sem dignidade nenhuma.

Tuesday, November 28, 2006

Que azar Senhor Major!!!

Acordei hoje de manhã com o Major Valentim Loureiro a falar na TSF. Nada de novo, portanto. Que não, que ele nunca, que isso é coisa de um país de pobres, que é perfeitamente normal que os administradores tenham cartões de crédito das empresas e que gastem o que lhes apetece, que não, que não senhor, que deve ser engano, etc, etc,etc. Ou seja, ninguém duvida, trata-se de mais uma argolada do Senhor Major! Que azar, deve ser coisa de um inimigo qualquer!

Monday, November 27, 2006

And now for something completely different....

(TR)



Joelhos, salsa, lábios, mapa.


As letras dormiam na noite inclinada, e eram
silveiras bravas. Por elas
escorregava o sono inclinado: nercúrio,
salsa leve.
Unidas as letras nos cotovelos, unidas
dormindo
nos seus frios joelhos de letras.
Por baixo, os mapas redondos com seu
mercúrios leve e a sua
salsa leve inclinada. Bravias
silveiras escorregando nos mapas.
Meus lábios unidos às letras dormindo.
Esse, isso - cabelo quente,
telha molhada.

...


Excerto do poema "JOELHOS, SALSA, LÁBIOS, MAPA." de Herberto Helder

"Faz-me o favor..."

Há tempos que Cesariny estava bastante doente. Sabia-se que para além disso ele tinha já uma idade avançada... Mas, mal se soube que Cesariny morreu, no próprio dia da sua morte, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa oportunamente teve uma ideia e fez anúncio inacreditável. Anuncia então o Presidente que vai atribuir o nome de Mário Cesariny a um equipamento cultural qualquer, que ele há-de escolher, porque agora que Cesariny morreu o Presidente descobriu que - diz ele - "A ele e à sua polémica obra devemos parte da contemporaneidade e cosmopolitismo de que Lisboa hoje se orgulha", leio no jornal "Público". Não se aplicaria, nem tenho o direito, mas apetece-me desconstruir e usar as palavras do próprio Cesariny para dizer: "Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada! "

Sunday, November 26, 2006

Depois da tristeza a alegria,

ou apenas umas boas gargalhadas. É que não as consegui conter. Anos e anos de estudo para descobrir coisas tão simples. Este post é descaradamente roubado do Blogue da Sabedoria sem pedido prévio de autorização. Nem uma palavra. Trata-se de um blogue qualificado anos a fio com 20 valores! Vai o JG agora importar-se com um roubo descarado destes! Mas há mais, vão ver!

Pornografia ajuda a causar "baby boom" entre os pandas,
um dos animais mais ameaçados de extinção.

«Funciona», diz um entusiasmado Zhang Zhihe, importante especialista chinês,
sobre a técnica de exibir vídeos do acasalamento de pandas a machos virgens. (+)

duas notas de lamento

Recebi há pouco tempo um sms a dizer que morreu Mário Cesariny, hoje de madrugada. Houve uma altura da minha vida em que estudei bastante a obra dele e me assombrei, não tanto com a obra, mas com a capacidade e necessidade de experimentação que lhe conferia uma actualidade e surpresa permanetes e indiscutíveis. Descobri entretanto por sua causa que havia mais sombras do que luz na história relativamente recente do país, e que por isso, Cesariny era uma escolha difícil. "Deixe-o morrer..." Jamais me esquecerei desta frase. E desisti de falar com ele. Não lamento ter desistido. Percebi e como disse descobri com o tempo que o aviso fazia sentido, apenas.


Ontem, fez oito anos (creio) que Nelson Goodman morreu também. Anotei na agenda. Lembrei-me dele por isso. Anotei na agenda porque quis lembrar-me. Nelson Goodman que nunca conheci pessoalmente e com quem nunca desejei falar é, de forma diferente, uma enorme influência na minha forma de compreender as alterações na forma de olhar o mundo ao longo do tempo. Acabei por juntar também os meus aos seus inúmeros olhos para compreender e aprender coisas verdadeiramente simples. Aliás é uma formula terrivelmente simples de ver e compreender os outros, apenas.


Friday, November 24, 2006

20 minutos

O país, como se vê, ora se queima, ora se inunda. Ambos os casos são sem dúvida dramáticos. É indiscutível. Se não tivesse chovido tanto hoje, o que noticiariam hoje os telejornais? Imagino que nada não pudesse ter sido dispensado, como julgo que foi. Com tanta informação, a toda a hora, com assuntos que se repetem até à exaustão, será que é inviável um telejornal da noite objectivo e simples que não ultrapasse os 20 minutos?

continuação do post anterior

(TR)

Esta é uma imagem clássica do Porto. Um mosaico que se fixa e jamais se esquece. Apesar da simplicidade é das minhas fotografias favoritas. O dia tinha uma luz fabulosa e aproximava-se o fim de tarde, altura do dia que por si só resulta em excelentes fotografias. E se quiserem uma outra versão bem mais original, vejam aqui.

Para os meus blogamigos do Porto a preto e branco

(TR)

Thursday, November 23, 2006

È una traduzione da internet!

Fiz há bastante tempo um post no qual dizia que os italianos eram piores do que nós em muitos comportamentos simples. Efectivamente é o que penso daquilo que conheço deles. Aconteceu-me há poucos dias uma situação muito engraçada que de alguma forma reforça a minha opinião. Desde há algum tempo um italiano comenta algumas das minhas fotografias no Flickr, tal como eu venho comentando as dele. Os comentários são sempre em inglês. São comentários muito simples e muito técnicos. A propósito de qualquer coisa, que não interessa aqui, fiz um comentário um pouco mais longo. Ele responde também com um comentário mais longo do que o habitual; contudo o seu comentário é tão confuso que eu mal percebo. Temendo fazer uma interpretação errada, peço-lhe naturalmente para explicar melhor o que queria dizer numa ou duas frases do seu texto. Ele responde. Explica mais uma vez o sentido das suas frases num texto novamente incompreensível e desconexo. Perante algumas suspeitas minhas, resolvo dizer-lhe que não entendo nada. É então que ele responde muito aborrecido em italiano que afinal o inglês do tradutor na internet era pior do que o dele. Eu chorei a rir. Isto significa, confessa ele de seguida, que não sabe uma palavra de inglês. A partir desse momento tudo se resumiu a uma solução: os meus comentários às fotografias dele são em português e os dele às minhas em italiano. Entendemo-nos lindamente!!

Wednesday, November 22, 2006

"nem às paredes confesso"

Desprezo. Desprezo é a forma como o Presidente da Câmara de Lisboa está a tratar os lisboetas, todos. O Presidente da Câmara de Lisboa só pode sentir desprezo pelas pessoas de Lisboa. Só assim se compreende que até hoje não tenha sentido a necessidade e o dever de esclarecer os eleitores lisboetas, especialmente aqueles que depositaram algumas esperanças nele, sobre o motivo que o levou a acabar repentinamente com a coligação de direita na Câmara Municipal. É que o Presidente da Câmara de Lisboa pode até ter razão nesta tomada de decisão, mas se assim for, perdê-la-á por completo com este comportamento absurdo de menino casmurro e mimado e amuado, que se fecha no gabinete e se recusa a falar com toda a gente. Ou então, o Presidente da Câmara de Lisboa não tem razão e aí trata-se de uma brincadeira sem graça absolutamente nenhuma. Há fortes possibilidades de um destes dias virmos a assistir ao lançamento de mais um livro de memórias e confissões de um político falhado... Oxalá!

porquê?

Ando curiosa com esta nova "Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário", melhor designada e conhecida por TLEBS e que vai ser introduzida a partir do próximo ano no ensino do Português. Tenho lido com atenção os artigos que encontro sobre este assunto e tenho falado com algumas pessoas que já estão a estudar esta nova terminologia, que vem substituir a que todos conhecemos apresentada em Diário da República a 28 de Abril de 1967 e sem qualquer alteração dese então. Em primeiro lugar constato que não se trata apenas de uma nova terminologia, trata-se de muito mais do que isso. Trata-se de alterações na forma de análise textual, a nível semântico, a nível sintático ou memso a nível da pragmática e da linguística. Trata-se na verdade de grandes alterações quer a nível da nomenclatura que a nível dos diferentes tipos de análise textual. Ainda sem saber ajuizar da pertinência destas alterações preocupa-me saber que as alterações são tão profundas que me tornarão incapaz de acompanhar as análises linguísticas com as minhas filhas e que se o pretender fazer vou ter de estudar a gramática toda de novo, o que, já tive oportunidade de confirmar com vários exemplos, será muito difícil sem ajuda. Sinceramente, é este o principal motivo que me move nesta tentativa de perceber e acompanhar o que é que se está a alterar.

Levanto aqui este assunto porque no meio destas dúvidas, levanta-se uma questão que julgo essencial e primeira entre todas; questão para a qual não encontrei, até ao momento, resposta nem em texto algum, nem nos professores que são obrigados e estão neste momento a estudar o TLEBS. A saber: qual o motivo/benefício destas alterações todas?
Alguém sabe?

Tuesday, November 21, 2006

lugares absolutos

(TR)

Há instantes em que se fica suspenso depois de um dia abundante. É inevitável. Tudo acalma, tudo pousa, tudo emudece. E fecho os olhos para que nada nem ninguém me veja.

Lloyd Cole - Like Lovers Do

Para quem puder estar na Aula Magna hoje!

Monday, November 20, 2006

um nota para um líder

Depois do Presidente da República afirmar em entrevistas várias, que se encontra em perfeita sintonia com o Primeiro Ministro José Sócrates e que este se recomenda ao país, o líder da oposição Marques Mendes, de quem pouco mais se sabe a não ser que foi à Madeira apoiar Alberto João Jardim e está no Brasil a fazer não se sabe bem o quê, "assumiu domingo ter uma agenda separada da do Presidente da República". Compreendem? O líder da oposição esperava ter a sua agenda coordenada com a do Presidente da República. Mas sabe agora que já não é mais possível. Não é fantástico? Leio ainda que o líder "reafirmou que não se deixará condicionar nem pelas divergências nem pelas críticas do governo ao seu trabalho na oposição". Desculpem, mas será que leio bem onde diz que o líder "reafirmou"...? O líder falou em"trabalho na oposição"? Em todo o caso, fez bem, porque estou convencida que ninguém tinha dado conta de nada. Agora que ao que parece já sabe o que o país inteiro já sabia, excepto ele próprio, isto é, agora que sabe que está sozinho na arena, pode continuar a bater-se contra a sua própria sombra.

espera


(TR)

Friday, November 17, 2006

milhões e milhões e milhões

Com apostas que na semana passada rondaram os 41 milhões de Euros em Portugal, esta semana nem imagino qual seja o valor total de venda deste jogo.

Pergunta óbvia: para quê a publicidade na televisão ou onde quer que seja ao Euromilhões? A resposta é ainda mais óbvia: não sabem o que fazer a tanto dinheiro!

escalde-se o gato

Enviaram-me hoje um sketch do "Gato Fedorento" que, tanto quanto me esclareceram, passou no novo programa de televisão que fazem, um destes dias. O sketch mostra a gravação de Saddam Hussein a sobrepor a sua voz à do Juiz enquanto este decretava a sua sentença de morte. Imagens que o mundo inteiro conhece. A legenda está totalmente alterada e procura ter graça com Saddam Hussein a ripostar que desejava ser condenado num tribunal português, por diversos motivos sobejamente conhecidos, ou coisa muito parecida com esta, etc, etc, etc.

Estes sketchs "maravilhosos", quanto piores são mais rapidamente passam de mail em mail, por isso, muitos de vós já terão visto este a que me refiro.


É uma piada de um mau gosto atroz. Fiquei algo incrédula a olhar para o monitor enquanto colegas minhas se riam imenso, confesso. Penso que a "feder" desta maneira e a continuar assim, o "gato" não viverá para contar as sete vidas que lhe cabem. E se assim for, por causa de piadas como esta, quanto antes melhor.

O muro

1123 quilómetros e mais de 1500 milhões de dólares para separar os EUA de um povo cujo erro é ser pobre. O século XXI vai ter o seu muro apetrechado, como não podia deixar de ser, com modernas tecnologias de segurança. Tratando-se de uma decisão dos EUA, um país feito com emigrantes, ela causa um arrepio de medo e de traição à dignidade humana que devia abalar furiosamente boa parte do resto do mundo. Mas não se vê grande manifestação de repulsa. Apenas muita indignação diplomática, quando o assunto é absolutamente detestável, desprezível, insuportável. Será, sem dúvida, um muro para muitas separações. A primeira de todas coloca a vergonha de um lado e a dignidade do outro.

Monday, November 13, 2006

Il Trovatore de Verdi

Amanhã haverá qualquer coisa parecida com isto, talvez melhor porque encenada. No Coliseu do Porto.

Eureca!!

O que é que faz com que hoje a oposição a este governo de esquerda seja mais forte e contestatária à esquerda do que à direita? - Pergunta óbvia feita pela Judite de Sousa a António Vitorino.

Segundo percebi, António Vitorino num dos seus aborrecidíssimos contributos explica isto numa frase. Este fenómeno raro deve-se apenas a um motivo. Apenas um. A saber: a esquerda tornou-se uma esquerda moderna.

Foi assim mesmo. De repente a esquerda tornou-se uma esquerda moderna. Do dia para a noite despertou uma esquerda moderna adormecida em cada socialista. Isto aconteceu, por mera coincidência, neste mandato do engenheiro Sócrates que também apenas por acaso nem sequer vem originalmente da esquerda. Mas isto agora não interessa absolutamente nada.

Triste percepção da realidade

Ao que parece começa a ser comum uma pessoa que falha num determinado momento da sua carreira, especialmente política, vir posteriormente explicar por escrito, num livro, o motivo da sua falha. Aconteceu recentemente com o Dr. Manuel Maria Carrilho e acontece agora com o Dr. Pedro Santana Lopes, que lança hoje também o seu discurso argumentativo por escrito.

Esperemos agora que as televisões convidem autor a explicar o próprio livro, permitindo momentos de antena exclusivos que pouparão àqueles portugueses que nunca comprariam semelhante coisa a desejada bisbilhotice, isolados e confortavelmente sentados no seu sofá; e aos outros que ainda o poderiam vir a comprar, que sintam o seu impulso controlado a tempo. Restam portanto os que vão ao lançamento do livro e que provavelmente aproveitarão a entrevista absorvendo cada palavra que é dita em detrimento de muitas mais escritas para poupar os olhos. As revistas cor-de-rosa cobrirão seguramente o lançamento, permitindo que toda, mesmo toda, a população portuguesa seja conhecedora do evento. E assim, o lançamento de um livro, que parece uma forma de acabar sorridente e com humildade, pode ser, num país de acentuada perturbação amnésica como o nosso, um princípio feliz.


Mais!!! Fiquei hoje a saber pela própria TSF que Pedro Santana Lopes é um novo comentador da actualidade política nesta estação de rádio. Se isto, nos faz abrir as pálpebras para ler melhor este post, fez-me a mim inclinar a cabeça para ouvir melhor aquilo que julguei ser entropia logo pela manhã. Mas não. É verdade. E comenta logo bem cedo depois das 8.30h. A partir de hoje, passo a acordar com outra emissora qualquer.

nichos de sucesso












Encontrei
este post no sempre supreendente Lusofolia, no preciso momento em que estava a pensar a mesma coisa que nele é dita, depois de ter lido esta notícia.

Enquanto, discretamente, o governo desgovernado com a situação da
droga nas cadeias e na rua totalmente descontrolada apresenta um Plano de distribuição de seringas nas cadeias portuguesas, atitude algo difícil de compreender, apesar de aceite e banalizada, a nossa Polícia Judiciária é premiada pelo seu reconhecido mérito e assim designada para liderar uma operação europeia de combate ao tráfico de droga.

Dá que pensar....


Sunday, November 12, 2006

Momentos do dia

Comer umas boas castanhas assadas é tudo menos um Momento Vodafone. Mas está bem, o negócio diversificou-se....

(TR)
Chiado, Lisboa

Saturday, November 11, 2006

Paco De Lucia

Entre dos Aguas (1976)

Entre o Euromilhões e o Casino

"...

Al enterarse de mis pérdidas el francés me hizo observar, con malicia, que era preciso ser más prudente.

Aun cuando hay numerosos jugadores entre los rusos -añadió no sé con qué intención- los rusos no me parecen capaces para el juego.

Pues yo -repliqué- estimo que la ruleta no ha sido inventada nada más que para los rusos.

Como el francés sonreía desdeñosamente, le dije que la verdad estaba de mi parte. Al aludir a los rusos como jugadores, les censuraba más bien que alababa, y, por lo tanto, se me podía creer.

¿En qué funda usted su opinión? -preguntó el francés.

En el hecho de que la facultad de adquirir constituye, a través de la historia, uno de los principales puntos del catecismo de las virtudes occidentales. Rusia, por el contrario, se muestra incapaz de adquirir capitales, más bien los dilapida a diestro y siniestro. Sin embargo, nosotros, los rusos, tenemos también necesidad de dinero -añadí-, y por consiguiente, recurrimos con placer a procedimientos tales como la ruleta, donde uno se puede enriquecer de pronto, en unas horas, sin tomarse ningún trabajo. Esto nos encanta, y como jugamos alocadamente ... perdemos casi siempre.

Eso es verdad ... en parte -aprobó el francés con aire de suficiencia.

No; eso no es verdad, y debería sentirse avergonzado de hablar así de nuestros compatriotas -intervino el General con tono impresionante.

Permítame -le respondí-, se puede discutir qué es más vil: la extravagancia rusa o el procedimiento germánico de amasar fortunas con el sudor de la frente.

¡Qué idea tan absurda! -exclamó el General.

¡Qué idea tan rusa! -exclamó el francés.

Yo reía y me moría de ganas de hacerles rabiar.

Preferiría mucho más permanecer toda mi vida en una tienda de kirguises -exclamé- que adorar al ídolo alemán.

¿Qué ídolo? -exclamó el General poseído por la cólera.

La capacidad alemana de enriquecerse. Estoy aquí desde hace poco tiempo y, sin embargo, las observaciones que he tenido tiempo de hacer sublevan mi naturaleza tártara. ¡Vaya qué virtudes! Ayer recorrí unos diez kilómetros por las cercanías. Pues bien, es exactamente lo mismo que en los libros de moral, que en esos pequeños libros alemanes ilustrados; todas las casas tienen aquí su papá, su Vater, extraordinariamente virtuoso y honrado. De una honradez tal que uno no se atreve a dirigirse a ellos. Por la noche toda la familia lee obras instructivas. En torno de la casita se oye soplar el viento sobre los olmos y los castaños. El sol poniente dora el tejado donde se posa la cigüeña, espectáculo sumamente poético y conmovedor. Recuerdo que mi difunto padre nos leía por la noche, a mi madre y a mí, libros semejantes, también bajo los tilos de nuestro jardín ... Puedo juzgar con conocimiento de causa. Pues bien, aquí cada familia se halla en la servidumbre, ciegamente sometida al Vater. Cuando el Vater ha reunido cierta suma, manifiesta la intención de transmitir a su hijo mayor su oficio o sus tierras. Con esa intención se le niega la dote a una hija que se condena al celibato. El hijo menor se ve obligado a buscar un empleo o a trabajar a destajo y sus ganancias van a engrosar el capital paterno. Sí, esto se practica aquí, estoy bien informado. Todo ello no tiene otro móvil que la honradez, una honradez llevada al último extremo, y el hijo menor se imagina que es por honradez por lo que se le explota. ¿No es esto un ideal, cuando la misma víctima se regocija de ser llevado al sacrificio? ¿Y después?, me preguntaréis. El hijo mayor no es más feliz. Tiene en alguna parte una Amalchen, la elegida de su corazón, pero no puede casarse con ella por hacerle falta una determinada suma de dinero. Ellos también esperan por no faltar a la virtud y van al sacrificio sonriendo. Las mejillas de Amalchen se ajan, la pobre muchacha se marchita. Finalmente, al cabo de veinte años, la fortuna se ha aumentado, los florines han sido honrada y virtuosamente adquiridos. Entonces el Vater bendice la unión de su hijo mayor de cuarenta años con Amalchen, joven muchacha de treinta y cinco años, con el pecho hundido y la nariz colorada ... Con esta ocasión vierte lágrimas, predica la moral y exhala acaso el último suspiro. El hijo mayor se convierte a su vez en un virtuoso Vater y vuelta a empezar. Dentro de cincuenta o sesenta años el nieto del primer Vater realizará ya un gran capital y lo transmitirá a su hijo; éste al suyo y después de cinco o seis generaciones, aparece, en fin, el barón de Rothschild en persona, Hope y Compañía o sabe Dios quién ... ¿No es ciertamente un espectáculo grandioso? He aquí el coronamiento de uno o dos siglos de trabajo, de perseverancia, de honradez, he aquí a dónde lleva la firmeza de carácter, la economía, la cigüeña sobre el tejado. ¿Qué más podéis pedir? Ya más alto que esto no hay nada, y esos ejemplos de virtud juzgan al mundo entero lanzando el anatema contra aquellos que no los siguen. Pues bien, prefiero más divertirme a la rusa o enriquecerme en la ruleta. No deseo ser Hope y Compañía ... al cabo de cinco generaciones. Tengo necesidad de dinero para mí mismo y no deseo vivir únicamente para ganar una fortuna. Ya sé que he exagerado mucho, pero me alegro de que ésas sean mis convicciones.
..."

Cap IV, excerto de El Jugador, F. M. Dostoyevski

Nota: versão em espanhol porque está igual à versão que tenho, por sinal, muito boa.

Friday, November 10, 2006

Um beijo camaleão para o fim de semana

(TR)

Thursday, November 09, 2006

As misérias da guerra


Esta é talvez a gravura mais terrível que eu já vi. É uma gravura de Jaques Callot de 1633. Trata-se de um excesso para denunciar outro excesso, a guerra. É a mais terrível de uma série de três (?) gravuras denominadas Les misères de la guerre. Talvez não se veja bem, não encontrei imagem maior, mas "nós" somos aqueles que estão a jogar dados sobre um tambor, do lado direito da imagem, à sombra da árvore. É precisamente assim que vemos a guerra - de longe - , creio não exagerar se disser - com indiferença - .

Ocorre-me que somos os únicos seres vivos que planeiam com antecedência matar o outro. Racionalmente preparamos com astúcia um comportamento todo ele irracional. Como se não bastasse, o que verdadeiramente nos comove nisto são os excessos, ou dito de outra forma, os efeitos colaterais, como se a guerra em si não fosse um efeito colateral ou um excesso da vida humana.

Tuesday, November 07, 2006

Obsessões que se repetem



the shelf - 1955

still life of pears against a green and orange background - 1954

composition - 1948


Nicolas de Staël

É uma janela portuguesa com certeza!

(TR)

Promessas e mais promessas

O governo continua a PROMETER isto; o governo continua a PROMETER aquilo; etc. ; etc.

Eles não percebem que não somos parvos, e a culpa disso é naturalmente nossa. Ou seremos parvos?

Monday, November 06, 2006

Direitos opcionais

Um dos curiosos assuntos da actualidade é o crescente interesse da China por África, interesse esse que é já antigo, mas que aumentou exponencialmente nestes últimos anos. E não é nada que espante. Ao ritmo a que vem crescendo a economia chinesa (9%/ano), a China precisará brevemente de mais recursos naturais e de mais matérias primas do que aqueles que o próprio país possui e que até hoje são suficientes. Os chineses estão pois de olhos em bico e malas feitas para embarcar definitivamente para África. África por seu lado, vê na China uma indiscutível oportunidade de incremento das suas exportações em especial dos seus recursos naturais e consequentemente uma melhoria económica. Ao mesmo tempo essa África , aparentemente, florescente não resiste ao aliciamento de poder ter ao seu alcance, entre milhares de outras coisas, exemplares baratíssimos das novas tecnologias do mundo desenvolvido. As lojas chinesas não crescem apenas na Europa, em África abrem novas lojas todos os dias. África passa a ser também mais um bom mercado para a China escoar o seu "lixo de plástico". Aparentemente os dois continentes saem a ganhar com estas negociações. Aparentemente, porque estamos a falar de países onde não existem, na sua maioria, quaisquer direitos humanos. Onde os líderes são carrascos do próprio povo. Massacram pessoas, massacram povos inteiros. Dos dois lados há milhares de pessoas que morrem de fome; milhares de pessoas violadas, castigadas, exploradas, humilhadas, miseráveis, paupérrimas. Não é difícil, pois, imaginar que os negócios entre ambos se concretizem com facilidade, afinal a linguagem entre líderes de regimes odiosos é seguramente a mesma.

Enquanto isso, os paladinos dos direitos humanos, a Europa e os EUA, assitem silenciosos às negociações entre a China e África à espera do seu quinhão, diplomaticamente preocupados em alimentar a preciosa amizade com a China e em estabelecer boas, senão excelentes relações com África.

Não será demasiada inocência nossa esperar que os nossos governantes, esses homens eleitos por nós, se mostrem indignados e estrebuchem em nosso nome pelos mais dignos e honrosos direitos da humanidade perante a condenação à morte na forca de Saddam?

Saturday, November 04, 2006

A boa aluna

A Ministra da Educação é uma boa aluna. Tem todas as suas energias concentradas nesta guerra à qual chama "divergência" com os professores. Não se desvia um mílímetro do objectivo. Fá-lo como se a qualidade no ensino dependesse apenas de um agente - os professores - e como se estes fossem a origem e o fim de todos os males na educação. A Senhora Ministra e o seu Ministério não fazem a menor ideia de como pegar no problema da falta de qualidade do ensino, mas parecem ter encontrado o "bode" certo. Encontraram na divisão e fragilidade da classe dos professores o motivo ideal para, pela sua dimensão, gerar grande confusão mediática parecendo que, com enorme esforço e diálogo, se fazem grandes e substanciais alterações, sem na verdade se alterar nada de substancial para a melhoria da qualidade do ensino. A Senhora Ministra tenta convencer-nos de que os maus resultados no ensino devem-se essencialmente à falta de trabalho e irresponsabilidade dos professores ou então que resolvendo este problema, a maior parte do vasto problema do ensino fica resolvida. Toma a parte pelo todo deliberadamente, e toma os professores, os pais dos alunos, e a nós todos por idiotas. Neste momento, é evidente que o que preocupa à Ministra da Educação não é a melhoria da qualidade do ensino, se é que esta alguma vez foi prioridade, mas antes vencer esta batalha que decidiu travar contra os professores, com apoio do governo.


Confissões

Há livros que mesmo quando fechados os desejamos nas mãos.

(TR)

Friday, November 03, 2006

Muito a propósito da actualidade e da velocidade: Fontes Pereira de Melo

(TR)

Momento do dia

Hoje, estava eu confortavelmente sentada no Metro a aproveitar os meus verdadeiros 20 minutos de leitura diária, quando, numa estação sentou-se ao meu lado um casal. Aparentavam ter entre 20 e 25 anos e tinham um estilo indubitavelmente gótico. Sorridentes um com o outro, ambos algo ofegantes, falavam em tom baixo e com aparente cumplicidade. Eu, ali mesmo ao lado, não pude, a dada altura, deixar de ouvir:

Ela - Ainda pensas muito nela?
Ele - Nela.....?! Nããão! Nela não. Penso em nós...

A rapariga não conteve um sorriso de orelha a orelha.

Ele olha-a com alguma surpresa e corrige a gaguejar: - Nóóós....., eu e ela...

...

Desejos confessos

A ASAE é o azar de alguns e a alegria de todos os demais. Se fosse possível gostava um dia de os convidar a fazer umas visitas aos cafés do bairro onde vivo. O bairro ficaria, indubitavelmente, muito mais feliz.


Thursday, November 02, 2006

O maior silêncio de todos

Descobri, pela primeira vez, que é possível esse momento de que fala Herberto Helder num qualquer poema seu que não consigo identificar agora: "a morte é uma amor enorme"*.


*Não tenho a certeza que seja exactamente esta a frase, mas é exactamente este o sentido que dela extraí.