Mentiras por "Paixão"
Apesar de ser adversa a todas as festividades de índole religiosa, se lhes retirar essa grossa capa de espectáculo, na sua essência, a religião em si e a sua indiscutível importância na cultura dos povos merece todo o meu reconhecimento e interesse. O mito alimentou e alimenta a vida da maior parte da humanidade. Todo o homem precisa de qualquer coisa de supra-humano que lhe retire a angústia da incerteza da vida e do seu valor no mundo. Desse ponto de vista, Jesus é a excelência. A versão dos evangelhos usada pela igreja mostra-nos um Jesus filantropo, quase homem, quase deus, que deu tudo pelos homens sejam eles muito ou pouco pecadores, um Jesus que veio para nos salvar e que nos perdoou tudo, mesmo o imperdoável. Um Jesus que viveu numa constante preocupação de se mostrar humano sem sair da sua condição de superioridade divina perante os homens, superioridade que seria, segundo os evangelhos que conhecemos, transposta para a igreja, tal como aconteceu. Morreu pela humanidade, como um homem, duvidou como um homem e julgou-se no último minuto abandonado pelo seu pai, tal como os homens e acabou ao lado de deus, tal como desejam os homens. É uma figura indisutivelmente fascinante.
Foi esta, de entre muitas outras, a versão da história escolhida pelos fundadores da igreja. É esta versão que determina os fundamentos da igreja cristã e que lhe permite dizer tudo o que quer em nome de deus. A igreja quis e cumpriu-se a sua condição de mediadora na relação dos homens com deus. A igreja cristã quis e tornou-se uma inevitabilidade para chegar a deus.
Hoje, o que me incomoda não é Jesus, essa figura sem par e que merece toda a minha admiração e respeito. Hoje, o que me incomoda é precisamente a instituição da igreja. A igreja não evoluiu, nem tenta evoluir, ou naquilo que evolui, evolui sempre tardiamente e à força. A igreja tem tido dificuldades em integrar-se na modernidade, e à medida que veio perdendo força, optou por encarar a modernidade e as consequências boas e más dela, como o inimigo. A igreja, no fundo continua a acreditar que pelo medo e pela ocultação conquista e mantém os seus fieis. Esquece-se, finge que não vê, que os homens cada vez se afastam mais dela, porque cada vez mais homens conhecem a sua farsa e desistem dela. Ninguém duvida ou pode duvidar do seu papel na construção da civilização. A igreja passou-nos um bilhete sem retorno, isto é, não há como alterar a história e as marcas da igreja na construção da civilização ocidental. Mas a igreja hoje devia deixar de uma vez por todas de se aproveitar e de alimentar a desgraça humana para se manter activa. Devia deixar de usar a fraqueza humana como o único esqueleto que a sustenta. Mas não. A igreja quer manter-se hirta, quer o que sempre teve, o poder, porque é apenas de poder que se trata quando se fala da igreja, e com medo de o perder tenta impor-se e sente-se no direito de exigir aos seus fieis perfeitas e incompreensíveis idiotices, que os que podem não cumprem e os que precisam, por causa dela, da igreja, morrem, como é facil de perceber na questão do uso de contraceptivos, só para dar um exemplo. Será que alguém vê amor ao próximo neste impedimento? A igreja esconde, manipula e mente. Os homens a pouco e pouco vão descobrindo por eles próprios, no meio do silêncio, a verdade, quando a verdade deveria vir da própria igreja. É um feitiço que acredito, a pouco e pouco se vá voltando contra o feiticeiro.
Foi esta, de entre muitas outras, a versão da história escolhida pelos fundadores da igreja. É esta versão que determina os fundamentos da igreja cristã e que lhe permite dizer tudo o que quer em nome de deus. A igreja quis e cumpriu-se a sua condição de mediadora na relação dos homens com deus. A igreja cristã quis e tornou-se uma inevitabilidade para chegar a deus.
Hoje, o que me incomoda não é Jesus, essa figura sem par e que merece toda a minha admiração e respeito. Hoje, o que me incomoda é precisamente a instituição da igreja. A igreja não evoluiu, nem tenta evoluir, ou naquilo que evolui, evolui sempre tardiamente e à força. A igreja tem tido dificuldades em integrar-se na modernidade, e à medida que veio perdendo força, optou por encarar a modernidade e as consequências boas e más dela, como o inimigo. A igreja, no fundo continua a acreditar que pelo medo e pela ocultação conquista e mantém os seus fieis. Esquece-se, finge que não vê, que os homens cada vez se afastam mais dela, porque cada vez mais homens conhecem a sua farsa e desistem dela. Ninguém duvida ou pode duvidar do seu papel na construção da civilização. A igreja passou-nos um bilhete sem retorno, isto é, não há como alterar a história e as marcas da igreja na construção da civilização ocidental. Mas a igreja hoje devia deixar de uma vez por todas de se aproveitar e de alimentar a desgraça humana para se manter activa. Devia deixar de usar a fraqueza humana como o único esqueleto que a sustenta. Mas não. A igreja quer manter-se hirta, quer o que sempre teve, o poder, porque é apenas de poder que se trata quando se fala da igreja, e com medo de o perder tenta impor-se e sente-se no direito de exigir aos seus fieis perfeitas e incompreensíveis idiotices, que os que podem não cumprem e os que precisam, por causa dela, da igreja, morrem, como é facil de perceber na questão do uso de contraceptivos, só para dar um exemplo. Será que alguém vê amor ao próximo neste impedimento? A igreja esconde, manipula e mente. Os homens a pouco e pouco vão descobrindo por eles próprios, no meio do silêncio, a verdade, quando a verdade deveria vir da própria igreja. É um feitiço que acredito, a pouco e pouco se vá voltando contra o feiticeiro.
6 Comments:
Cara TR...
No melhor pano cai a nódoa. E, neste post, deparo-me com uma série de disparates...
O maior de todos:
"A igreja não evoluiu, nem tenta evoluir, ou naquilo que evolui, evolui sempre tardiamente e à força"
- a Igreja (presumo que se entende, aqui, por Irgeja de Roma) evolui sim: evolui ao seu ritmo, que é lento, se comparado com o ritmo dos tempos, de todos os tempos. Mas é o ritmo certo - é uma questão de saber ser sábia. Isso é que a "safa", é que lhe dá durabilidade - se acompanhasse o ritmo dos tempos, já não existia.
Conheces alguma outra instituição (estamos a falar de Igreja-Instituição e não de Fé...) que tenha 2000 anos?... É obra, aguentar-se tanto tempo. Para quem não sabe evoluir, não está mal...
-----------------------------
Outros.
"A igreja tem tido dificuldades em integrar-se na modernidade"
A Igreja não tem que se integrar em nada. As pessoas é que podem ou não integrar-se nela. Ou mais ou menos, o que quiserem e o que necessitarem.
A Igreja pode ter dificuldades em cativar fiéis, mas o problema pode estar mais nos homens do que na Igreja.
------------------------------
"os homens cada vez se afastam mais dela, porque cada vez mais homens conhecem a sua farsa e desistem dela"
- os homens afastam-se cada vez mais da Religião, do Sagrado.
E estamos a falar do Ocidente.
Os mulçumanos não se têm afastado da Religião deles...
RPS,
Quando eu digo que a igreja não evolui uso naturalmente uma hipérbole. Eu sei que ela evolui lentamente e " naquilo que evolui evolui sempre tardiamente e à força".O que eu quero dizer é que o esforço da igreja para acompanhar as alterações sociais é quase nulo, ela fá-lo por força, por último recurso. Nunca a igreja teve a iniciativa de avançar, de querer mudar, nunca houve uma iniciativa de de dentro para fora. Quando alguma alteração acontece, acontece sempre ao inverso: de fora para dentro. E eu penso que deveria, por princípio, ser ao contrário.
Quanto dificuldade da igreja em integrar-se na modernidade também não tenho dúvidas. É verdade o que dizes, o que a igreja deseja é que às cegas todos a integremos bons ouvintes. Mas se ela é toda a nossa cultura cívica, talvez tenhamos o direito de a questionar sobre aquilo que prega e aquilo que faz e tem feito ao longo dos tempos.
O problema em cativar fieis está claramente numa igreja cada vez mais desajustada da realidade. A igreja terá sempre fieis, porque a bondade cristã é também inquestionável e necessária, mas é esse princípio básico de bondade para com o outro que resta no coração das pessoas. Na prática acredito que cada vez mais as pessoas tendam a não se identificar com a igreja, ainda que afrequentem.
Por fim, falo da cultura ocidental naturalmente. Mas é bom, o exemplo dos fanatismos religiosos. As diferentes interpretações das mesmas passagens bíblicas explicam muito bem a arbitrariedade das religiões.
Oh TR... Se tu desses orientações à Igreja, e se essas orientações fossem seguidas, iam dois mil anos ao ar em menos de meia dúzia de anos!
Talvez RPS. Reconheço-lhe inúmeras acções boas e excelentes contributos a vários níveis, assim como sou capaz de reconhecer que a Igreja é velha, pesada, punitiva, castradora e mentirosa, por exemplo. Apesar de toda a minha educação na fé católica não consigo sentir um pingo de simpatia pela instituição hoje.
A Igreja enquanto instituição é admirável.
Não me refiro a questões de Fé, olho apenas como instituição.
Foi fundada há DOIS MIL ANOS. Quantas instituições há, assim, duráveis?... É impressionante!
Fundada por um gajo ou por uma dúzia de amigos há 2000 anos e está aí, ainda!
E mais. GLOBALIZOU-SE!!!...
2000 anos antes da "Globalização", sem recurso a tecnologias.
Bolas! Os gajos são mesmo bons - desde o primeiro gajo e os amigos que andavam com ele, até aos que lá andam, com umas saias esquisitas.
É por isso que me dá vontade de rir quando ouço aquele discurso "main-stream" que (para espanto meu) a TR fez: é pá, não se adaptam, estão fora do tempo, não sabem o que é a modernidade, ah e tal... ainda vão acabar...
Repito: não é por questões de Fé que digo isto, é só porque é óbvio:
A Igreja (a Católica, Apostólica, Romana) é Sábia. Muito, muito, muito... (n vezes muito) Sábia.
RPS, eu não disse que a Igreja não era muito sábia. Eu sei que a Igreja é muito sábia. Nós é que não. Isto sim, impressiona-me verdadeiramente! Os gajos são sem dúvida muitíssimo bons. Mas "mais cego é aquele que não quer ver" e "em terra de cegos quem tem olho é rei"... Que a igreja é uma grande instituição com 2000 anos de história, é indiscutível. E longe de mim querer destriuir o que quer que seja. A minha questão é naturalmente de ordem pessoal, até porque eu sinceramente e de acordo com o que dizes, acho que a igreja não teme, porque é impossível, um qualquer anúncio que colectivamente a derrube e ainda bem porque faz também muitas coisas boas. Nem sempre fez, mas faz.
De que há uma crise na vocação sacerdotal e um decréscimo de crentes não tenho dúvidas.
A igreja talvez nunca acabe colectivamente, mas vai acabando individualmente. Eu acho que a igreja vai acabando dentro de cada um de nós ou dentro de cada um daqueles que descobrem e percebem a farsa que é, e fazem um stop na palhaçada. E eu não só digo o que digo, como não pactuo com a igreja. Não pratico, não casei, não baptizo nem baptizarei as minhas filhas até que uma delas me diga que o quer fazer e será feito. E como eu, conheço uma série de pessoas que não conseguem pactuar com a igreja.
Quanto ao ritmo lento da igreja estamos em profundo desacordo. A igreja cresce ao ritmo das suas conveniências, e portanto como dizes, ao seu ritmo que é lento, como aliás tudo nela. Acontece que a igreja está a anos da realidade actual e também é por isto que está
a perder fieis.
Post a Comment
<< Home