Thursday, April 06, 2006

Pensamento e realidade: resposta ao Macroscópio

"Podemos supor que os nossos pontos de vista divergem sempre da realidade. Não só porque somos imperfeitos mas também porque enviezamos quase tudo o que vemos."

Será que enviesamos? Sim, é certo. Mas será sempre assim? Será sempre assim com todos nós? Creio que não. A questão não está em nós enviesarmos, sendo que propositadamente o podemos fazer, a questão está em que cada um de nós vê naturalmente o mundo de uma forma diferente do outro, ainda que muitos de nós nunca cheguemos a ter capacidade para o perceber. Os nossos pontos de vista divergem sempre da realidade, ou não fosse a realidade, dinâmica.


(Rui, reproduzo e comento o seu curto texto aqui, porque este tema interessa-me imenso em todas as vertentes e também porque perdi todos os meus emails da caixa de correio que uso aqui e só os posso recuperar pelos próprios blogues de cada pessoa, coisa que não consigo fazer no seu)

6 Comments:

Blogger António Conceição said...

"Podemos supor que os nossos pontos de vista divergem sempre da realidade. Não só porque somos imperfeitos mas também porque enviezamos quase tudo o que vemos."

Estão os dois errados. O que se passa é que a realidade não existe. Isto é, não existe a realidade objectiva, em si mesma. Ou, se existe, é transcendente e inalcançável. Nós nunca saberemos o que é.
A realidade somos sempre nós que a inventamos.
Por exemplo, a teoria de que o Sol é um Deus é tão boa como a teoria da relatividade de Einstein.
O que acontece é que há uns milhares de anos nós inventámos a teoria de que o Sol era um Deus e, no séc. XX, inventámos (Einstein inventou) a teoria da relatividade.
O jogo inventado por Einstein é esteticamente mais belo do que o jogo do Sol-deus, porque é mais complexo e trabalhado.
Mas a realidade, as verdadeiras regras de funcionamento do Universo nós nunca saberemos quais são. Nunca as descreveremso com precisão e verdade.
A verdade não existe. Ou melhor, existe. É a que nós inventarmos.

12:38 PM  
Blogger TR said...

Muito bem Funes! Mas se pensar na realidade física e facilmente tangível, por exemplo, uma rosa amarela. Vários de nós e a mesma rosa amarela. Podemos "afirmar" que todos percepcionamos a mesma "realidade". Todos olhamos para a rosa e concordamos que é uma rosa amarela, etc. Há uma aparente percepção igual da realidade. Mas se tivermos de fazer o exercício de a reproduzir em fotografia, por exemplo, todos daremos diferentes perspectivas dela, entre outras coisas, porque a apreensão da imagem da rosa num dado momento é irrepetível e ainda, porque aquilo que designamos por realidade é algo dinâmico e não estático...

1:03 PM  
Blogger António Conceição said...

Mais ou menos, TR.
No caso da Rosa Amarela (ou noutro caso qualquer), podemos dizer que todos nós recebemos os mesmos estímulos. Mas o que sejam esses estímulos nós nunca saberemos. A Rosa, de resto, só é amarela por causa da luz solar com que a vemos. A Rosa não é marela em si mesma. Ou talvez o seja. O que a Rosa amarela é nunca o saberemos. Teremos sempre que a inventar.

1:16 PM  
Blogger TR said...

Eu percebo Funes, mas não é por acaso que todos percepcionamos a mesma coisa de uma forma geral, da mesma maneira. A rosa é amarela por causa da incidência da luz solar, certo, mas todos a percepcionamos amarela. Na verdade, só quando temos de fazer o exercício de explicar ou reproduzir a realidade é que nos apercebemos de que não vemos todos a mesma coisa. O Funes parte daquilo a que designamos realidade para a percepção humana dela e eu faço o exercício ao contrário, daí que as nossas perspectivas, resultem em explicações diferentes...creio eu.

1:25 PM  
Blogger António Conceição said...

Suspeito que esta discussão tem 25 séculos, TR.

3:57 PM  
Blogger TR said...

Sim, também suspeito que sim....

3:59 PM  

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