Tuesday, April 04, 2006

Curtas reflexões sobre tristes verdades

Hoje, no metro, antes de ler umas páginas do magnífico livro que ando a ler, peguei no jornal o "Metro" e dei uma vista de olhos. Tomei nota de duas tristes notícias:
1º Os fabricantes de cadeiras de segurança infantis para automóveis estão a fabricar cadeiras maiores porque mais de um quarto das crianças americanas são obesas e não cabem nas cadeiras com as dimensões normais.
2º Uma pequena notícia sobre o julgamento da Vanessa, dava conta que os familiares usaram um ferro de queimar leite-creme nos maus tratos que lhe deram.
A obesidade infantil é uma consequência da modernidade e da decadência galopante das condições de vida das crianças em geral. Como em tudo, os americanos vão à frente, mas a obesidade infantil é já um problema na Europa. Sinto que a minha geração é aquela que corresponde ao pico alto de um triângulo que é a imagem de progresso tecnológico e humano das últimas décadas. Os meus pais sabiam que tudo o que me estavam a dar, me conduziria a uma vida com mais qualidade do que a deles. E assim é. E foi assim ao longo de algumas das últimas três ou quatro gerações. Esta certeza acabou com a minha geração. Eu não tenho qualquer tipo de certeza deste tipo relativamente ao futuro das minhas filhas. Parece que quanto mais o mundo avança no sentido do desenvolvimento tecnológico, mais decadente é a adequação humana a esse mundo novo e a função dos pais é agora a de encetar uma forma de fugir com os filhos desta galopante decadência...
A segunda notícia é quase inacreditável, porque sinceramente fico chocada com a leviandade com que os jornais relatam todo o processo decorrente da morte da Vanessa. As notícias transcrevem testemunhos de tal forma que este parece ser não mais do que um caso simples e comum, uma perfeita banalidade. Não é uma situação comum. Não é uma situação normal. Não é uma banalidade, bem pelo contrário. Sou hipersensível a este tipo de informações. Dispenso informações detalhadas do processo nas quais dão conta dos horrores que fizeram à miúda. Talvez seja cobardia minha, ou pura incapacidade ou mesmo desejo de tapar os olhos, mas não quero saber que a queimavam com um ferro de queimar leite-creme, como vem hoje no jornal.

3 Comments:

Blogger Art&Tal said...

pormenores jornalísticos destes tipo são pura pornografia. odeio que me mostrem os tumores só porque me querem arrancar qualquer coisa.
reflicto muito sobre estas misérias. logo eu que nem nos gatos que vivem comigo bato...
seguramente pertenço a uma outra realidade.

6:00 AM  
Blogger Carlos Azevedo said...

As tristes verdades são as tristes verdades de todas as gerações que desesperam por não ter certezas, assim que têm os filhos a crescer. E as tristes verdades transformam-se em certezas passados muitos anos: o que diziam os nossos pais ? Que na geração anterior as coisas eram bem mais fáceis e perceptíveis. Leia-se o desespero da geração da 1ª guerra. por exemplo.

Não entres tão depressa nessa noite escura.

10:19 PM  
Blogger Jardim de flores amarelas said...

As violências ficam banalizadas nos pormenores.
Quanto mais freqüentes, mais insensíveis ficamos.
Tentam insensibilizar-nos ao ponto de acharmos normal ou até que queiramos fazê-lo como as compras do final da tarde?
Também não quero esses detalhes. Não é fechar os olhos às Vanessas, é não insensibilizar-me a elas.

3:41 PM  

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