Wednesday, May 24, 2006

Convicções sem preço

Luandino Vieira, escritor angolano que desconheço, ganhou e recusou o maior prémio literário atribuído pelo nosso país, o "Prémio Camões", cujo valor é de cem mil euros.

Segundo palavras do escritor, as razões são "pessoais, íntimas". E isto basta.

Ouvi na rádio, por fontes próximas do escritor, que Luandino Vieira decidiu há muito tempo recusar para si também, as questões banais e mundanas da sociedade actual, optando por viver isolado.

Fico algo comovida com isto. Não conheço o Luandino, nunca li nada dele, e posso estar errada, mas parece-me tão difícil recusar um prémio destes, ainda que haja motivos fortes... Creio tratar-se de um exemplo ímpar de honestidade, seja ela de que tipo for.

O acontecimento é tão pouco comum que o Ministério da Cultura não faz ideia de como contornar a questão.

6 Comments:

Blogger Siddharta said...

É notável encontrar-se tamanha liberdade nos dias de hoje!
Ao que parece Luandino Vieira vive completamente despojado de bens materiais, contentando-se simplesmente com o indispensável .
E esta atitude asceta perante a vida é a meu ver uma enorme declaração de liberdade .

"A liberdade, esse bem que nos permite desfrutar de todos os outros bens " Montesquieu

8:05 PM  
Blogger patchouly said...

A liberdade de recusar o prémio por motivos pessoais e intimos é um direito inalienável do escritor, mas não deixa de me chocar pensar que poderia ter aceite o dinheiro para o distribuir por alguns dos muitíssimos que precisam do mínimo no seu país. Alguns que não dispõem sequer do indispensável.

10:11 PM  
Blogger aDesenhar said...

Não sabia que tinha recusado oprémio!

Raro nos dias de hoje.

Um Homem totalmente livre!.

Mas...

Luandino podia distribuir os

cem mil euros por escolas Angolanas!

é estranho.

:)

1:02 AM  
Blogger António Conceição said...

Peço desculpa, Patchouly, mas discordo.
Se Luandino fizesse o que diz, provavelmente ia apenas ajudar a filha de José Eduardo dos Santos a comprar mais uns sapatitos em Paris. Ele nunca chegaria a saber se o dinheiro chegaria, de facto, a quem dele necessitava. E provavelmente não chegava.
A sua recusa e o seu pseudónimo, ao recordarem-nos a bandidagem que governa Angola, e ao questinonarem-nos dos motivos por que - ele, que fazia parte da elite privilegiada de Luanda e que podia viver como um nababo - abandonou o seu país, fazem mais pelos angolanos, do que cem mil euros que deixasse para serem entregues a esses necessitados e que, com toda a probabilidade, iriam parar aos bolsos de um bandalho.

10:54 AM  
Blogger patchouly said...

Touché, funes.
Estou a ser lírico, reconheço.
Mas que me choca, lá isso choca - que quer, tenho um coração de manteiga! :)

12:12 PM  
Blogger TR said...

Caríssimo anónimo, estive precisamente para escrever um post sobre o dinheiro gasto pelos "Palancas Negras" e a participação no Mundial, mas não estando bem por dentro do assunto e faltando-me a vontade de o estudar, abandonei a ideia.

Luandino Vieira talvez pudesse ter dado um rumo ao cacau, mas atendendo a opção de vida que tomou, parece-me que ele não deseja nem pensar no assunto.

Vamos ver se o MCPortuguês explica o que vai fazer com o dinheiro, e já agora, estou também curiosa relativamente ao rumo da parcela brasileira.

1:57 AM  

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