Tuesday, June 06, 2006

Três notas sobre o Plano Nacional de Leitura

"O Plano Nacional de Leitura, aprovado por esta Resolução, define um conjunto de estratégias destinadas a promover o desenvolvimento de competências nos domínios da leitura e da escrita, bem como o alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura, designadamente entre a população escolar.

Como principais acções a desenvolver no âmbito do Plano Nacional de Leitura, destacam-se:

a) A promoção da leitura diária em Jardins-de-infância e Escolas de 1.º e 2.º Ciclos nas salas de aula;

b) A promoção da leitura em contexto familiar;

c) A promoção de leitura em bibliotecas públicas e noutros contextos;

d) O recurso aos meios de comunicação social e a campanhas para sensibilização da opinião pública;

e) A produção de programas centrados no livro e na leitura a emitir pela rádio e pela televisão;

f) O apoio a blogs e chat-rooms sobre livros e leitura para crianças, jovens e adultos.

Para assegurar a comunicação dos programas e iniciativas e a interacção com as escolas e com todas as entidades envolvidas, será construído um site, em permanente actualização, com orientações de leitura para cada idade e instrumentos metodológicos destinados a educadores, professores, pais, bibliotecários, mediadores e animadores e eventuais voluntários. Do mesmo modo, prevê-se ainda acções de formação presenciais e on-line destinadas a educadores, professores, mediadores e voluntários.

No quadro da divulgação do Plano Nacional de Leitura junto da sociedade civil, podem ainda ser chamados a colaborar na sua execução escritores, ilustradores, criadores e outras entidades que se disponibilizem a participar em acções ou a promover iniciativas.

Por último, esta Resolução nomeia a mestre Maria Isabel Girão de Melo Veiga Vilar para o cargo de Comissária do Plano Nacional de Leitura."


Três notas sobre este assunto:


1. Praticamente todas estas iniciativas que o Plano pretende adoptar, indicadas em cima de "a" a "f", estão já a ser postas em prática há anos nas escolas, nas bibliotecas, houve e há programas de TV e rádio sobre livros, há blogues sobre livros, etc. Quanto às campanhas de sensibilização, não servem de nada. Se conseguirem converter a leitura numa moda, "a moda de ler", acredito que possa ter algum sucesso. (Peçam ajuda aos "Morangos com Açúcar")


2. Saramago, na sua infeliz intervenção sobre este assunto, tem também razão quando diz que a leitura pertence a uma elite. É um facto. Quem teve o privilégio de no seio da família, ou a capacidade para individual ou colectivamente, em qualquer altura da sua vida, perceber o poder da leitura e sentir-lhe o gosto convertendo-a num vício, do qual se extraem generosos proveitos, pertence efectivamente a uma elite restrita, a elite dos que lêem e gostam de ler.

3. Mais do que um, dois, três, quatro Planos Nacionais de Leitura, quem tem feito muito para pôr as pessoas a ler como eu nunca tinha visto são os jornais gratuitos. Às 10h da manhã entro no Metro e já esgotaram. Entro nas carruagens e há inúmeras pessoas a ler os jornais. Parados nos semáforos, vejo também inúmeros carros a abrir a janela para receber o jornal. Será que alguém da comissão gigantesca criada para pensar a estratégia, consegue analisar, perceber e utilizar o que for pertinente neste fenómeno em proveito do Plano?


2 Comments:

Blogger vinte e dois said...

1- Pelo que eu li nos jornais, até o próprio governo anda confuso em relação ao que é realmente " O Plano Nacional de Leitura".
2- O apoio aos blogs é muito bonito, mas numa análise mais profunda, verifica-se que os blogs são essencialmente frequentados por pessoas adultas. O interesse dos adolescentes está virado para os fotoblogs.
3- Esta campanha faz-me lembrar um pouco o que aconteceu há uns anos com os reflectores para os veículos de duas rodas. O objectivo era acabar com a sinistralidade na estrada. Passado um ano, o que se via nas rodas, eram os restos dos reflectores que por milagre ainda não tinham caido. E a segurança na estrada foi pelo cano abaixo.
4- Muito dificilmente alguém consegue convencer uma criança a ler Os Maias ou Os Lusiadas, a não ser que apareça o Sandoku numa caravela em alto mar a lutar contra um terrível monstro.
5- Ninguém me tira da cabeça que, sempre (ou quase sempre) que o governo lança uma campanha inovadora, é porque precisa de dinheiro (e lá vão uns milhares de reflectores, e outros milhares de bancos para crianças,uns milhares de coletes e agora uns livrinhos).
6- O governo não consegue medir forças com a XBOX ou a Playstation.
7- Quem quer apostar comigo que daqui a um ano, já ninguém sabe o que é o PNL mas que a XBOX e a Playstation continuam de boa saúde?
8- Apesar de não gostar de Saramago (o que acontece com metade dos seus leitores, mas é de bom tom gostar, mesmo que os livros dele na estante nunca tenham sido abertos), acho que ele sabe o que diz.
9- A promoção da leitura no contexto familiar é uma utopia. Estou mesmo a imaginar os pais na sala, a lerem uma bonita história para os filhos, e eles de costas viradas para "O morangos com açucar".
10- Antes do lançamento do PNL, o governo devia lançar o PNBPL (Plano Nacional de Baixa do Preço dos Livros). Só quem está a par do custo de produção de um livro é que consegue entender os vergonhosos lucros que as editoras têm.
11- Peço desculpa se disse alguma coisa com a qual alguém não concorda.

2:15 AM  
Blogger tomas vasques said...

Estou completamente de acordo.

5:46 PM  

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