Thursday, March 16, 2006

Vaga reflexão: o pior ataque é o que estamos a fazer a nós própios

Hoje, a propósito do ataque dos EUA no Iraque, apetece-me deixar aqui esta vaga reflexão genérica, ainda que não perceba muito ou perceba quase nada do assunto. Julgo que o básico do problema que os EUA e nós europeus despoletámos no Iraque é fácil de compreender para quem fizer um pequeno esforço para acompanhar o que se diz.

A mentalidade básica e bélica de George W. Bush é assustadora. É um homem frio e medíocre. Infelizmente, é o homem que comanda os destinos de boa parte do mundo, o que equivale a dizer que representa uma séria ameaça para o mundo. Hoje, perante problemas sérios, o mundo suspende a respiração e aguarda pelas decisões americanas, o que equivale a dizer que se não tem, G.W. Bush parece ter o mundo nas mãos. Invadiu o Iraque porque sim, e a Europa ajudou porque achou que se ele dizia que sim, era sim, o que equivale a dizer que infelizmente a Europa da História, dos princípios, da paz, do diálogo, quando não sabe tomar decisões, quando não consegue dialogar decide também pela guerra. Foi basicamente o que fizemos recentemente com o Iraque. É basicamente o que continuamos a fazer agora. Os comportamentos descabidos e irracionais não são apenas de G. W. Bush, são de ambas as partes, com a diferença de que todos sabemos quem manda. O senhor Bush quer, pode e manda, ainda que nem sempre tudo corra tão bem como desejava. Se a História dos Homens fizer no tempo alguma justiça, entre outras coisas, George W. Bush será lembrado como o homem que fez o mundo regredir.

8 Comments:

Blogger António Conceição said...

"G.W. Bush parece ter o mundo nas mãos. Invadiu o Iraque porque sim, e a Europa ajudou porque achou que se ele dizia que sim, era sim, o que equivale a dizer que infelizmente a Europa da História, dos princípios, da paz, do diálogo, quando não sabe tomar decisões, quando não consegue dialogar decide também pela guerra."

O problema, TR, é que a Europa da História, dos princípios, da paz, do diálogo é uma cultura e uma civilização. Não é uma organização nem, muito menos, uma nação ou um Estado.
Quem pode tomar decisões não é a Europa, é Inglaterra, a França, a Alemanha, a Espanha... os países europeus.
E este, partilhando, uma história, uma cultura, uma civilização comuns, não partilham - necessariamente não partilham - interesses geopolíticos comuns.
Essa ilusão foi criada pela guerra fria e pelo muro de Berlim e morreu com a queda do muro. Só que os burocratas de Bruxelas, com medo de perderem o emprego, fazem de conta que ainda não o perceberam.

8:56 PM  
Blogger António Conceição said...

Nota à margem:
Releio os últimos dez posts deste blog e constato que aquele que mais comentários teve ("a frase do dia") era aquele que eu diria que menos potencialidades tinha.
O de "O grito" e da "Mona Lisa", que supostamente deviam ter dado lugar e mereciam vasta discussão, não parece terem despertado grande atenção.
Decididamente, nunca compreenderei a blogosfera.

9:03 PM  
Blogger TR said...

Muito bem, Funes, tem toda a razão.

9:24 PM  
Blogger jota said...

Sigo atentamente este(s) blogue(s) bem como os comentários que suscita(m). Venho acompanhando os do Funes que em geral atestam reflexão e profundidade. Lamento que tivesse rematado o seu primeiro comentário por um daqueles "clichés" que francamente pode soar bem à mesa de um café mas desmerece do tom e da qualidade a que nos habituou...falar dos burocratas de Bruxelas e do putativo receio de perderem o emprego revela um total desconhecimento do que se passa por lá...

Saudações cordiais.

10:01 PM  
Blogger TR said...

Creio que neste último aspecto também tenho de concordar com o Jota, a última frase do comentário do Funes é algo hiperbólica...

10:07 PM  
Blogger António Conceição said...

Não desconheço o que por lá se passa, não senhor. E é evidente que a frase tem o tom demagógico de que a acusam.
Quando falo no receio de perderem o emprego, falo de um ponto de vista simbólico.
É evidente que para a generalidade dos funcionários não se trata propriamente de perder o emprego no sentido habitual que termo significa.
Trata-se de perder o sentido da vida. Porque afinal andaram anos e anos a servir uma causa sem futuro.
Uma coisa é um tipo trabalhar vinte anos num banco e chegar ao fim, por causa de uma OPA, porem-nos na rua.
Outra, bem pior, é servir durante vinte anos uma causa que julgamos nobre e, no fim, descobrirmos que, afinal, não havia causa nenhuma.
Ficamos desempregados. E, inconscientemente, recusamo-nos a ver a realidade e a perder dessa forma o emprego.

10:38 PM  
Blogger Art&Tal said...

estando eu numa interessante conversa sobre musica contemporanea e falando numa coisa que eu conheço bastante bem - karlheinz stockhausen- alguem lá no meio disse (desculpa...) sem sustentar nada: "foda-se esse é um reaccionario!". eu pedi para explicar e o homem quase dobrou a lingua em explicaçoes que nao explicavam nada.
eu sou provocador porque acho que a melhor forma de soltar a lingua é mesmo esta.
eu disse-lhe que o assunto munch e o grito nao será esquecido.

eu proprio já lhe fiz a pergunta... porque será que em certos assuntos ninguem toca... desgosta-me muito ... nao posso fazer nada.

6:36 PM  
Blogger TR said...

qual pergunta César? Eu sou muito atenta ao que diz, apesar de não comentar todas as suas provocações...

6:58 PM  

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