Sunday, July 09, 2006

DEUS ABSCONDITUS

Sobre a visita do Papa Benedicto XVI a Espanha, faria minhas as palavras de Giorgio Caproni, neste seu magnífico minúsculo poema:


Este simples dado:
Deus não está oculto.
Mas suicidado.


Giorgio Caproni: "Deus absconditus", "Bisogno di Guida", em Il muro della terra (1975)

15 Comments:

Blogger Tiburcius said...

Não gostei! sabes que sou católico?! pode parecer que não mas sou...

9:53 PM  
Blogger António Conceição said...

Se és, Tibúrcio, é grave que não pareças.

12:45 PM  
Blogger croqui said...

Deus não se suicidou,
nós é que o matamos e continuamos a matar...
Deus não nos abandonou,
nós é que o abandonamos,
e o continuamos a negar!

...e quando me dizem "eu não acredito em Deus" com a arrogância de quem s acha mais inteligente, eu respondo "por enquanto"...

3:28 PM  
Blogger António Conceição said...

"...e quando me dizem "eu não acredito em Deus" com a arrogância de quem s acha mais inteligente, eu respondo "por enquanto"..."

Você tem razão na sua resposta, Croqui. Mas ela passa ao lado do verdadeiro problema. E o verdadeiro problema é que, mesmo que eu passe a acreditar em Deus com todas as forças do meu pequeno ser, isso, só por si, não faz Deus existir.

5:38 PM  
Blogger Dinamene said...

http://www.duke.edu/web/spanish-lit/docs/extra.jpg

6:56 PM  
Blogger TR said...

Croqui e Tibúrcio, em nenhum momento é dito no poema que não se acredita em deus, aliás o poema até atesta precisamente o contrário. Só um deus existente se pode ocultar ou suicidar. Imagino que uma metáfora com a força desta não agrade aos católicos crentes, que não perdem a oportunidade de vir defender a sua tese acusando a liberdade de outros. Gostaria de deixar claro que este post e este poema (intencionalmente escolhido) atentam alguma ironia relativamente a tão moderada e tímida visita do Papa a Espanha, e não pretende atacar a liberdade religiosa e as crenças de cada um. Como se sabe, a questão da família era o tema central nesta visita. Havia alguma curiosidade geral, talvez mundial em saber o que diria o Papa sobre as alterações ao conceito de família que vêm ocorrendo nas sociedades actuais e em particular na sociedade do país que visitou, a Espanha (permite o aborto, aprova o casamento homossexual e não sei bem como está a questão da adopção, etc.). Parece que para determinadas questões, para determinado tipo de comportamentos que fogem ao comportamento tradicional defendido pela igreja católica, deus não existe, deus cala-se, anula-se, suicida-se, é um deus que segrega, ... e neste caso para estes, deus efectivamente não existe. O Papa foi a Espanha rezar pelas famílias (tradicionais), falar em privado com os reis, conversas que vá-se lá saber porquê ficam no segredo dos deuses e foi embora abençoando todos, totalmente diplomático, diz o El País. Tentem não fazer uma interpretação literal do poema, por favor. Não vos parece que o poema está perfeito?

7:54 PM  
Blogger Sinapse said...

Interessante conversa despontou nesta caixa de comentários.

Não acreditar em Deus não é arrogar-se ou crer-se mais inteligente.

Acreditar em Deus é fé.

Não acreditar em Deus é outra possibilidade.

Acreditar que o deus de cada um é único ou melhor ou mais verdadeiro que o deus do outro ... é acreditar com arrogância.

O respeito é fundamental.
Quase me atreveria a dizer que é sagrado ... não fosse a palavra tomar uma confusa significância no contexto desta conversa.



Talvez o Homem se tenha suicidado de Deus.

8:08 PM  
Blogger patchouly said...

"Imagino que uma metáfora com a força desta não agrade aos católicos crentes, que não perdem a oportunidade de vir defender a sua tese acusando a liberdade de outros"

E as manifestações anti-papa e antí-clericais não demonstrarão que os não-católicos militantes também não perdem a oportunidade de defender a sua tese atacando a fé de outros?
Não será lógico que se defendam as teses em que se acredita?

11:58 PM  
Blogger TR said...

Parece que não consegui passar a minha mensagem neste post...

Tens razão Patchouly, é lógico que se defendam as teses em que se acreditam e é lógico que quando gostamos e acreditamos em qualquer coisa não fiquemos cegos sem conseguir analisar e distinguir as coisas boas das coisas más daquilo ou daqueles em quem acreditamos. Ou será que a fé é mesmo cega? Eu não pretendia e julgo que não ataquei a fé de ninguém, nem sou anti-Papa. Acho que a igreja resiste ao óbvio e continua a fechar os olhos às alterações sociais inevitáveis, para não dizer irreversíveis, apenas isto. Para não ir mais longe nos exemplos e não ferir mais susceptibilidades, deixo apenas esteexemplo conhecido de todos (creio): as católicas praticantes estão-se nas tintas para a lei obrigatória da igreja que as proíbe de tomar a pílula e tomam-na. A igreja vira-lhes as costas, diz-lhes que serão castigadas, porque é pecado, etc, etc. Qual é a mulher que hoje pensa estar a cometer um pecado, a ir contra as leis da igreja porque toma a pílula? Qual é o homem que julga que a sua mulher e ele por conivência peca por causa da pílula? Quantos católicos fervorosos se estão nas tintas para a lei da igreja?
A minha questão visava todas estas questões indirectamente e usei a metáfora aplicada à visita do Pápa não ter trazido nada de novo para a igreja em matéria de família.

12:22 AM  
Blogger TR said...

"Papa" sem acento, naturalmente! :-)

12:25 AM  
Blogger patchouly said...

Eu não me estava a referir a tí quando falei das pessoas antí-clericais e antí-papa que se manifestam tr. Nem me referia ao teu post, mas apenas à parte do teu comentário que citei.
A imagem que na altura formei mentalmente era a de uma mulher nua(lamentavelmente bem gorda por sinal:)), em cima de uma bicicleta, com um véu de freira a pedalar pelas ruas de Valência. É só uma imagem, claro, mas que para mim ilustra bem que os extremos do discurso têm dois lados, como sempre.

Quanto à ortografia da palavra Papa... houve-os alguns que foram mais papás que Papas, mas essas são contas de outro rosário...

1:11 AM  
Blogger patchouly said...

Esqueci-me de comentar a questão da desadequação da igreja aos tempos que correm: o tema é tão vasto! Concordo obviamente contigo no exemplo que referes. Concordarei com outros que com toda a certeza não quiseste referir para não ferir susceptibilidades. Não sou católico praticante. Não defendo qualquer ortodoxia. Não sigo nenhuma igreja. Não sou ateu nem tão-pouco agnóstico, o que fará de mim um crente (em algo)- defini-me há uns anos como culturalmente católico. Mas não deixo de admirar a persistência -nos defeitos e nas virtudes- de uma organização humana durante dois milénios, e compreendo que os ritmos de um tal organismo não são os do quotidiano.

1:22 AM  
Blogger croqui said...

funes,
não sei se tenho razão, é apenas a minha opnião e tenho que respeitar quem concorda tanto como quem tem outras opniões. Mas a existência de Deus não é problema.

TR,
eu percebi que o poema não põe em causa a existência de Deus, até mesmo como metáfora que é. Pode ser interpretado de variadas formas e tu adaptaste, e bem, a uma situação actual, nomeadamente à visita do Papa a Espanha. E um "Deus suicidado" neste contexto precebe-se que tem a ver com a posição da igreja mais do que Deus propriamente dito.

Eu apenas comentei tento em conta talvez mais os comentários anteriores do que post. Ou relacionando o poema de acordo com os comentários, e com a discordia que este assunto sempre gera.

Mas acho que o este post teve este impacto pois não há tema mais contorverso que este. Por isso mesmo achei-o muito bom pois é sempre bom falar e discutir sobre um assunto do qual muita gente talvez evite pensar.
...e pensar nisso só nos faz bem, pois não deixa de ser uma procura;
e como diria o Prof. Hermano Saraiva "penso que estão mais perto de Deus aqueles que o procuram do que aqueles que julgam que O encontraram"

1bj TR,
cada vez gosto mais deste teu espaço ;-)

9:34 AM  
Blogger Rosario Andrade said...

Bom dia TR,
Concordo em absoluto contigo. Apenas... para mim, deus nunca existiu ou qualquer deus tem a mesma razao de existir e portanto o mesmo direito de por exemplo os deuses romanos e gregos. E assim prefiro aqueles, tem bem mais piada! prefiro Apolo a um velhote desorientado, incontinente e desdentado...
Agora a sério, muitas destas questoes e destes debates ocorrem simplesmente porque as pessoas confundem dois conceitos fundamentais: espiritualidade e religiosidade. A espiritualidade é um instinto como outro qualquer, intrinseco e pessoal, que deriva da inseguranca, da volatilidade da vida humana, das questoes da existancia e de um desejo de auto-perpetuacao.
A religiosidade é uma coisa bem mais perigosa, é o poder que instituicoes exercem sobre os individuos, limitando-lhes as liberdades, sob promessas que nao podem cumprir ou ameacas vergonhosas, de modo a manterem um determinado poder e influencia.
Que cada um acredite num deus, na fada madrinha ou no que quer que seja (desde que essa escolha nao interfira com a liberdade dos outros) isso é uma escolha pessoal e inquestionavel. Mas ja é questionavel que as pessoas, sob coaccao, tenham de consumir o deus empacotado nas fábricas das instituicoes.
Bjicos!

10:05 AM  
Blogger TR said...

Aconselho a leitura do artigo do Vital Moreira do Público de hoje. De alguma forma, levanta as questões que eu pretendia tocar com este post.

12:22 PM  

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